quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

... natal em crise? ou não?



Viajando pelo mundo, nos últimos meses ou até mesmo anos, vejo que há países ricos em recessão, o ouro negro a terminar, desemprego a aumentar e povos sem opções.
O Natal aproxima-se a passos largos, e os comerciantes continuam a queixar-se do mau negócio que estão a fazer. Não há dinheiro para todos aqueles presente, para todos aqueles doces e chocolates... ou então as pessoas optam por menores quantidades ou por artigos de marcas mais baratos, escolhendo presentes simbólicos...
Com isto, aos olhos e muitos, o natal pode também estar em crise. Mas e altura de vermos as coisas por outro prisma... Não vamos deixar de fazer a festa de Natal, não vamos dizer que não às crianças, não vamos esquecer da ceia tão desejada. Apenas vamos gastar menos; não comer tanto; e ter mais tempo para estar com a família, para brincar com as crianças...
O Natal não perde o seu significado com menos presente, com menos um chocolate ou menos uma posta de bacalhau. Pelo contrário... talvez o Natal tenha a ganhar muito com a "crise", e com tudo isto, reavivar valores esquecidos que devem continuar a ser defendidos, no interior e no significado da família.
Até o velho das barbas vai agradecer, com menos peso no seu saco vermelho...
Feliz Natal para todos...


sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

... "receita de ano novo"

"Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre."

Carlos Drummond de Andrade
Texto extraído do "Jornal do Brasil", Dezembro/1997